quarta-feira, 13 de maio de 2020

Páscoa


Venerável Dom Fulton J. Sheen



Muitos espíritos consideram desesperançados nosso mundo moderno. É, na verdade, como uma grande e horrível Sexta-Feira da Paixão em que tudo o que é divino parece afundar-se na derrota. O futuro nunca pareceu tão completamente imprevisível como é hoje. A humanidade parece numa espécie de viuvez, em que um crescente sentido de desolação a arrasa, como a alguém que empreendesse a jornada da vida em íntima camaradagem com outra e, depois, se visse, repentinamente, roubada daquela companhia para sempre. Há guerra e rumores de guerra. A economia se emaranha numa confusão. O comunismo rouba homens de suas almas e uma educação falsa as afasta de sua fé. As vidas tornam rasas com a mundanidade e mal preparadas para os rigores de uma disciplina forçada. Abundam as vulgaridades nos lábios e os desejos não realizados tornam amargos os corações. Há confusão, desesperança e desespero em toda a parte.

E, no entanto, não há necessidade da desesperança e desepero. O mundo parecia desesperançado do mesmo modo antes, quando crucificou seu Salvador; e, no entanto, com todo seu paganismo e nacionalismo, ergueu-se para o verdor e o vigor da vida Cristã e da civilização. O milagre da Ressureição pode repertir-se. O mundo pode levantar-se uma vez mais como ergueu-se antes, pelo menos umas doze vezes desde o advento do Cristianismo. Mas não tenhamos ilusões. não se erguerá para a paz e para a felicidade somente através de remédios econômicos e políticos: só levantar-se-á através de uma regeneração espiritual dos corações e das almas dos homens. A Ressureição de Nosso Senhor não foi o reinicio de uma velha vida: foi o começo de uma vida nova. Foi a lição do Natal por inteiro outra vez: isto é, o mundo não será salvo pela recuperação social, mas por renascimento — renascimento dos mortos pelo Poder da Divindade em Cristo.

Não devemos reconstruir nossa velha vida; devemos erguer-nos para nova vida. Deve haver uma energia nova introduzida de fora, pois sem ela devemos apodrecer em nossas sepulturas.

Cristo ressurgiu dos mortos pelo Poder de Deus. É inutil para nós tentarmos erguer-nos por qualquer outro Poder. Esta Vida e Poder o Salvador Ressurecto deu a Seu Corpo Místico, a Igreja. Sua Verdade vem até nós através de Seu Vigário: Sua Vida chega até nós através dos Sacramentos; Sua Autoridade vem até nós através do Episcopado. Mas, aqui, está o obstávulo do mundo. Pode admitir que, pelo Poder de Deus, Cristo levantou-se do túmulo mas não admitirá que o Poder do Cristo Ressurecto continua além do túmulo. Vê a Igreja pelo seu lado humano, constituída de criaturas débeis e fracas e, por conseguinte, como algo que deve ser desprezado. Cai no mesmo erro que Maria Madalena cometeu na primeira manhã de Páscoa. Ela confundiu o Salvador Ressurecto com o jardineiro, isto é, com uma coisa humana simplesmente. O mundo também vê Cristo Ressurecto em Seu Corpo Místico, a Igreja e a julga o jardinieor — algo humano e não divino. Mas a Divindade ai está como esteve no Jardim a Primeira Páscoa e somente essa mesma Divindade pode dar esperança a um mundo desesperado. Podemos contudo obter noss paz de espírito se procurarmos não somente político e o econômico, mas a nova Vida do Reino de Deus. Está a mensagem do Dia de Páscoa — a Ressureição dos Mortos o Triunfo dos Vencidos, o Encontro dos Perdidos; a primavera da terra, o altar da vida, a Trombeta da Ressurreição soando sobre a terra dos vivos.

Mas para todas as almas a mensagem da Páscoa soa com a significação de que não há razão para o desespero. A Ressurreição foi anunciada a Madalena — uma alma em certa ocasião como a nossa própria. A paz nos espera no culto de Deus que nos criou. Não importa o quanto desesperançadas pareçam coisas há sempre esperança pois Cristo é a Ressurreição e a Vida Aquele que pode fazer flocos de neve de gotas de água suja, diamantes de carvão, e santos de Madalenas pode também fazer-nos vitorioso se apenas confessarmos a Ele em Sua Vida Mística e terrena como Cristo, o Filho do Deus Vivo.

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Jornal do Dia — Domingo 17 -4–1960

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