Venerável Dom Fulton J. Sheen
Muitos espíritos consideram
desesperançados nosso mundo moderno. É, na verdade, como uma grande e horrível
Sexta-Feira da Paixão em que tudo o que é divino parece afundar-se na derrota.
O futuro nunca pareceu tão completamente imprevisível como é hoje. A humanidade
parece numa espécie de viuvez, em que um crescente sentido de desolação a
arrasa, como a alguém que empreendesse a jornada da vida em íntima camaradagem
com outra e, depois, se visse, repentinamente, roubada daquela companhia para
sempre. Há guerra e rumores de guerra. A economia se emaranha numa confusão. O
comunismo rouba homens de suas almas e uma educação falsa as afasta de sua fé.
As vidas tornam rasas com a mundanidade e mal preparadas para os rigores de uma
disciplina forçada. Abundam as vulgaridades nos lábios e os desejos não
realizados tornam amargos os corações. Há confusão, desesperança e desespero em
toda a parte.
E, no entanto, não há necessidade
da desesperança e desepero. O mundo parecia desesperançado do mesmo modo antes,
quando crucificou seu Salvador; e, no entanto, com todo seu paganismo e
nacionalismo, ergueu-se para o verdor e o vigor da vida Cristã e da
civilização. O milagre da Ressureição pode repertir-se. O mundo pode
levantar-se uma vez mais como ergueu-se antes, pelo menos umas doze vezes desde
o advento do Cristianismo. Mas não tenhamos ilusões. não se erguerá para a paz
e para a felicidade somente através de remédios econômicos e políticos: só
levantar-se-á através de uma regeneração espiritual dos corações e das almas
dos homens. A Ressureição de Nosso Senhor não foi o reinicio de uma velha vida:
foi o começo de uma vida nova. Foi a lição do Natal por inteiro outra vez: isto
é, o mundo não será salvo pela recuperação social, mas por renascimento —
renascimento dos mortos pelo Poder da Divindade em Cristo.
Não devemos reconstruir nossa
velha vida; devemos erguer-nos para nova vida. Deve haver uma energia nova
introduzida de fora, pois sem ela devemos apodrecer em nossas sepulturas.
Cristo ressurgiu dos mortos pelo
Poder de Deus. É inutil para nós tentarmos erguer-nos por qualquer outro Poder.
Esta Vida e Poder o Salvador Ressurecto deu a Seu Corpo Místico, a Igreja. Sua
Verdade vem até nós através de Seu Vigário: Sua Vida chega até nós através dos
Sacramentos; Sua Autoridade vem até nós através do Episcopado. Mas, aqui, está
o obstávulo do mundo. Pode admitir que, pelo Poder de Deus, Cristo levantou-se
do túmulo mas não admitirá que o Poder do Cristo Ressurecto continua além do
túmulo. Vê a Igreja pelo seu lado humano, constituída de criaturas débeis e
fracas e, por conseguinte, como algo que deve ser desprezado. Cai no mesmo erro
que Maria Madalena cometeu na primeira manhã de Páscoa. Ela confundiu o
Salvador Ressurecto com o jardineiro, isto é, com uma coisa humana
simplesmente. O mundo também vê Cristo Ressurecto em Seu Corpo Místico, a
Igreja e a julga o jardinieor — algo humano e não divino. Mas a Divindade ai
está como esteve no Jardim a Primeira Páscoa e somente essa mesma Divindade
pode dar esperança a um mundo desesperado. Podemos contudo obter noss paz de
espírito se procurarmos não somente político e o econômico, mas a nova Vida do
Reino de Deus. Está a mensagem do Dia de Páscoa — a Ressureição dos Mortos o
Triunfo dos Vencidos, o Encontro dos Perdidos; a primavera da terra, o altar da
vida, a Trombeta da Ressurreição soando sobre a terra dos vivos.
Mas para todas as almas a
mensagem da Páscoa soa com a significação de que não há razão para o desespero.
A Ressurreição foi anunciada a Madalena — uma alma em certa ocasião como a nossa
própria. A paz nos espera no culto de Deus que nos criou. Não importa o quanto
desesperançadas pareçam coisas há sempre esperança pois Cristo é a Ressurreição
e a Vida Aquele que pode fazer flocos de neve de gotas de água suja, diamantes
de carvão, e santos de Madalenas pode também fazer-nos vitorioso se apenas
confessarmos a Ele em Sua Vida Mística e terrena como Cristo, o Filho do Deus
Vivo.
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Jornal do Dia — Domingo 17 -4–1960
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