VENERÁVEL DOM FULTON J. SHEEN
Todos querem ser felizes, mas
apenas poucos podem alegar que possuem a felicidade. As duas principais razões
de infelicidades são as seguintes:
1- A felicidade, em geral, é
considerado como algo fora de nós mesmos, como, por exemplo, uma casa de verão,
um convite para um “importante” coquetel ou devido a um novo carro em que há
mais lugar no compartimento de bagagem do que no assento de trás. Se a
felicidade, porém, tornar-se dependente de um prazer que outrem nos
proporciona, ou de uma honra, então é algo que se encontra fora de nosso
controle. Está ela em nós, mas além de nós.
2- A felicidade também muitas
vezes se identifica com a satisfação do nosso ego. O egoísta nunca admite que o
é; diz ele que apenas não deseja que “alguém lhe leve o melhor” o ego é a
criança mimada em nós — petulante, clamorosa, rixenta e crítica. O egoísta quer
louvores pelo que faz bem, mas paga sua culpa quando faz mal. O egoísta deseja
tanto ser amado que se esquece de amar e, por isso, jamais é feliz.
Quais são as condições de
felicidade? A primeira é a eliminação do egostismo ou egoísmo através da ajuda
de outros. A renúncia do eu por outrem exige a repressão constante daquelas
características de nossa personalidade que tendem a aviltá-la.
O maior filósofo pré-cristão,
Aristóteles, certa feita analisou as duas tendências que mais precisam ser
vencidas em nós e depois sugeriu a maneira de consegui-lo. As duas tendências
são o mau gênio e os desejos desenfreados. Nem sempre esses dois elementos se
apresentam juntos. O jovem é mais inclinado ao descontrole e seus apetites
carnais ou sensuais e os velhos ou os de meia idade são mais dados a sublimar o
sexo com o desequilíbrio, queixas e criticismo.
A ajuda a outrem é o corretivo
para as ambas. O temperamento é controlado porque a condição primeira da ajuda
é a bondade para com os demais. Não se pode imaginar um médico, enfermeiro ou
capelão de gênio violento numa colônia de lázaros. Como podem queixar-se os
lábios quando as chagas leprosas são como bocas implorando piedade e compaixão?
A ajuda de outros também detêm os
desejos impetuosos devido ao elevado respeito e amor para com os demais.
Procura-se mais agora proporcionar felicidade a outrem do que dar prazer ao
próprio eu. Quando a paixão começa a assumir o mesmo significado que tem quando
aplicam ao Calvário, onde falamos da “Paixão do Cristo”, então ela se elava ao
amor em sua expressão alta.
Nada contribui tão rapidamente
para a felicidade própria quanto o esquecimento do ego. O pássaro que canta
para os outros alegra seu coração.
Os dois óbulos das viúvas, a
sombra fugaz de Damião entre os leprosos, o vaso de alabastro quebrado de
Madalena — todas essas coisas levaram a verdadeira felicidade a estas almas. Na
noite em que Nosso Senhor saiu para sua morte para salvar a humanidade Ele
cantou. Foi a única vez que se registra que Ele cantou, e foi na hora do ofício
que era a renúncia. Este Divino Exemplo é necessário para inspirar esquecimento
próprio. Assim como a roda de moinho pára de girar quando as águas do regato
são detidas, assim também degenerará a caridade neste mundo em ações frias,
estatísticas profissionais a menos que sejam inspiradas por Ele que disse: “Eu
vim não para ser servido, mas para servir”.
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A CRUZ — ANO XLIX, CUIABÁ, 24 DE AGOSTO DE 1958, N. 2.251
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