domingo, 24 de abril de 2022

O dia a dia de Santo Thomas More

Trecho da Carta de Thomas More para Peter Giles.


"A maior parte do meu dia é dedicada à lei - ouvir alguns casos, defender outros, negociar terceiros, e decidir sobre ainda outros. Preciso visitar tal pessoa devido à sua posição social; esta outra por causa do seu processo na justiça; e assim quase todo o dia é dedicado aos assuntos alheios e apenas o que sobra, aos meus interesses; e para mim, ou seja, para os meus estudos, nada resta.

Quando volto para casa, devo conversar com minha mulher, com os meus filhos, tratar com os empregados. Tudo isso considero parte das minhas obrigações, pois são coisas que precisam ser feitas a não ser que se queira ser um estranho na própria casa. Além disso, um homem tem a obrigação de comportar-se o mais gentilmente possível com relação àqueles que a natureza, o acaso ou a sua própria escolha fizeram companheiros da sua existência. Naturalmente, não se pode estragá-los com familiaridade ou, pela tolerância excessiva, transformar os empregados em patrões, E assim, no meio dessas preocupações, escoa-se o dia, o mês e o ano.

Então, qual o tempo de que disponho para escrever? Especialmente porque ainda não inclui o sono e mesmo as refeições; muitos dedicam às suas refeições o mesmo tempo dado ao sono, que devora quase metade das nossas vidas. O tempo que me pertence é o que consigo roubar ao sono e à alimentação."

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Livro - A vida do servo de Deus Marcel Van

A vida do servo de Deus Marcel Van

A vida de Marcel Van é simples e ao mesmo tempo extraordinária. Durante a sua infância sofreu bastante, mas a sua fé foi fortalecida naquele tempo de provações e ele teve a graça de receber muitos chamados internos de Jesus, de Maria e de Santa Teresa do Menino Jesus.

Em muitas ocasiões, a Virgem Maria falava com ele, e ele a chamava afetuosamente de mãe ou de mamãe. Todos os dias desde criança rezava o rosário por Nossa Senhora, pedindo-a ajuda para resolver seus problemas e necessidades. [...] Santa Teresinha do Menino Jesus lhe aparecia com frequência, e ele a considerava uma verdadeira irmã. Ela o ensinou a amar a Deus Pai com simplicidade e humildade de coração.

Deus derramou muitas graças especiais na vida de Van. Ele queria morrer mártir para demonstrar o seu amor por Jesus, a quem já tinha se oferecido como vítima em nome de seu amor. Na verdade, ele morreu como um mártir, exausto e enfraquecido pelas condições lamentáveis de um campo de concentração comunista em seu país, o Vietnã.

Ficha Técnica:
ISBN: 9786599273629
Editora: Santo Thomas More

Dimensões: 13.50 x 21.00 cm
Páginas: 120
Idioma: Português
Para comprar: LivrariaBenedictus

Excerto do livro "A vida do servo de Deus Marcel Van".

"Certa feita, minha irmã Santa Teresinha me levou para passear no sopé da montanha. Ela falou comigo, rindo alegremente, e eu esperava ouvir coisas muito agradáveis dela. Mas depois de algumas palavras sobre a beleza da grama e das nuvens, ela de repente me disse:

— Van, meu irmãozinho, tenho uma coisa para lhe contar, mas temo que isso vá entristecê-lo.

— Oh, santa e querida irmã! Como posso ficar triste, se estou com você? Você já me viu triste por causa de suas palavras?

— É verdade, mas hoje eu sei que, de qualquer maneira, você vai ficar triste, e muito triste... Por isso, antes de falar com você, gostaria de pedir sua autorização. E agora, você pode me prometer que não vai ficar triste? Com esta condição, ousarei falar com você.

— Irmã, eu prometo a você.

— Nesse caso, eu vou lhe dizer. Van, meu querido irmãozinho, Deus me fez saber que você não será um padre.

— Isso é mesmo verdade, irmã?

Me desfiz em prantos. Mas por quê? Por quê? Como não serei padre? ... Não! Não! Jamais me conformarei em viver sem ser padre. Quero ser padre para rezar missa, ir pregar religião, salvar almas e buscar a glória de Deus ... Sim! É uma coisa já decidida, tenho que ser padre!

— Van, espere um pouco antes de chorar. Ainda não te contei tudo, irmãozinho. Sim, tornar-se padre não é difícil; por mais que eu tenha lhe dito que você não seria um padre, isso não significa que você não poderia ter se tornado um. Por outro lado, quem se atreveria a orgulhar-se de ser digno da vocação sacerdotal? Consequentemente, se Deus deseja que seu apostolado aconteça em outro estado de vida, o que você pensaria disso? Eu também não desejei, em outra época, ser sacerdote para ir pregar o Evangelho? No entanto, Deus não quis assim.


sexta-feira, 15 de abril de 2022

CRUZ OU CRUCIFIXO? Dom Fulton Sheen




"Se a Cruz é o símbolo do problema da Dor, o Crucifixo é o símbolo da solução desse problema. A diferença entre a cruz e o Crucifixo está em Jesus Cristo. Desde o instante em que Nosso Senhor, que é o Divino Amor, foi pregado na Cruz, mostrou-nos que a dor pode transformar-se num sacrifício radioso graças ao amor; que podem colher frutos de alegria os que semeiam com lágrimas; que os aflitos serão consolados; que irão reinar com Ele nos Céus os que sofreram com Ele na Terra; que todos quantos tomaram aos ombros as sua cruzes durante o breve tempo de uma Sexta-Feira da Paixão da vida terrena, gozarão a bem-aventurança durante a eternidade de um Domingo da Ressureição."
Dom Fulton Sheen, O Eterno Galileu 

quarta-feira, 13 de abril de 2022

Jacques Fesch - Diário - TUDO VER À LUZ DA PAIXÃO DE JESUS

Quem foi Jacques Fesch? Parece um enredo fictício de livro ou filme de drama; a história, porém, é real. Você não será o mesmo-eu garanto - após ler a vida e o diário de Jacques Fesch. Este jovem, rico, bonito, com futuro promissor, ver-se-ia preso nas teias das seduções mundanas (dinheiro, sexo, bebidas, prazeres) e insatisfeito com tudo e consigo, comete uma loucura tão propensa aos jovens... Fesch nasceu em 1930, em Saint Germain-en-Laye, uma cidade nos arredores de Paris. Casou-se com Pierrette Polack e teve uma filha, a linda Verônica. Porém, teve outro filho fora do casamento, chamado Gerard Fesch. Frustrado com sua vida, deseja se lançar em uma aventura: viajar pelo mundo em um veleiro. Para isso, pede dinheiro aos seus pais, que lhe recusam devido à sua irresponsabilidade. Com alguns amigos, planeja um assalto; seus amigos, porém, o abandonam no meio do ato e ele se vê desnorteado; ataca o dono da loja e, na fuga, acerta um tiro em cheio no coração de um policial. A pressão política e social foi enorme. Todos queriam sua condenação. Aos 27 anos, Jacques se vê condenado à morte por guilhotina. Na prisão é atendido por um advogado católico. Jacques debocha de sua Fé. Sua esposa que havia sido abandonada o visita e vê que, ao longo dos dias, sua fisionomia e estado de espirito vão mudando. Fesch de súbito converte-se! Ele teve uma graça extraordinária. Seu diário relata exatamente isso. Acreditamos que a vida de Jacques Fesch possa servir para mudar corações que passam por momentos de fraquezas e tristezas. Este é o nosso desejo!

Para comprar: Amazon  ; Livraria Benedictus


A Editora Santo Thomas More nos autorizou a publicar esse trecho.


TUDO VER À LUZ DA PAIXÃO DE JESUS

Sexta-feira, 13 de setembro

 

Meditei muito na Paixão esta manhã e dela tirei muitas forças. Aliás, importa notar que me aproximo um pouco mais de Jesus Crucificado, pois também eu, embora inteiramente indigno, vou ter a graça de viver o meu pequeno Gólgota. Quando vejo que eles escarraram em Cristo e lhe deram bofetadas, eu me vejo nas mãos dos agentes a receber pancadas e escarros, e compreendo melhor os sofrimentos de Jesus. A justiça, e as estiradas oratórias, as indignações fictícias dos mercenários a soldo do diabo que se chama dinheiro, publicidade e oportunismo, fazem-me pensar em Caifás a rasgar as suas vestes para manifestar sua indignação! Bem entendido que eu sou, culpado e em nada me pretendo pôr em paralelo com Jesus. Só que, quem compreenderá melhor a crucifixão e todas as dores que ela implica, do que o bom ladrão que estava pregado no madeiro ao lado do meu Salvador? E para quem Jesus Cristo veio, na realidade? É preciso não esquecer que o primeiro eleito foi um bandido, executado como tal, e que os bem-comportados ou os que se julgam como tais, se viram tratados por sepulcros caiados de branco por fora e podres por dentro e por outras coisas do gênero! Que dizer, então? Que é preciso ser um criminoso para ser um eleito? De modo algum! Só que este mesmo pária que pecou, muitas vezes sem ter toda a responsabilidade dos seus atos, encontrará no seu arrependimento e no sofrimento, e sobretudo na consciência da sua miséria, um caminho mais direto para chegar ao Coração de Jesus. O bem-comportado, esse se contentará com o pouco e, julgando-se justo aos olhos da sociedade, será persuadido de que será julgado da mesma forma por seu Pai Celeste.

“Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós somos fracos e vós fortes; vós nobres, e nós desprezíveis. Até esta hora, sofremos fome, sede e nudez; somos esbofeteados, andamos vagabundos, e cansamo-nos a trabalhar com as nossas mãos. Amaldiçoados, bendizemos; perseguidos, suportamos; difamados, consolamos. Tornamo-nos como o lixo do mundo, a escória de todos até agora” (1 Coríntios 4, 10-13).

No fundo de mim mesmo, sinto com intensidade toda a injustiça e estupidez dos juízos humanos. Muitas vezes gostaria de dar livre curso aos meus rancores, demonstrar a vaidade e a presunção dos que se atrevem a julgar; e imediatamente, vejo o próprio Jesus, o amor feito homem a sofrer, sem uma única palavra, os piores ultrajes, as piores injustiças e engulo a minha raiva, entregando toda a justiça às mãos do meu Deus, e alegrando-me por eu mesmo ter também qualquer coisinha a oferecer, em reparação dos pecados. É simplesmente necessário que eu me prepare para bem morrer, que não resista em nada à Vontade de Deus e que abandone toda a preocupação, todo o temor, nas mãos de Jesus, que me conduzirá “Sem que meu pé choque com a pedra” do redil celeste, em que as pastagens são tão abundantes. Que força não tiraremos então de Jesus crucificado?

“A própria inocência foi condenada à morte, como responsável de crimes odiosos; o salvador de Israel e do mundo foi proclamado, a face de todos, um perigo e uma ruína por aqueles que mais O deviam amar! Ó lição formidável para o orgulho da razão humana! Ó consolação inefável para as almas que se sentem esmagadas sob o peso da injustiça, da calúnia e da perseguição! Haverá porventura um momento mais próprio para repetir, com o Príncipe dos Apóstolos de joelhos, diante do Mestre abandonado: “A quem iremos nós, para encontrar a luz e a força, uma vez que só vós tendes palavras de vida eterna?” (São João 6, 68).

Cada ato, cada momento da minha execução e de seus preparativos, devo relacioná-los com Jesus. Que bela imitação a fazer! A longa expectativa, sozinho na noite, será a minha agonia no Jardim das Oliveiras; os preparativos, o caminho para o Calvário e, enfim, o instrumento de morte... Jesus conheceu a angústia, eu também a conheci; mas estou certo de que, aconteça o que acontecer, o próprio Jesus me dará a força para vencer toda essa angústia. E como é que Jesus sofreu?

“Agora, diz Ele, a minha alma está perturbada”. Por consequência, será que um véu lhe caiu dos olhos, mostrando-lhe toda a profundeza do abismo em que iria cair? A resposta não é difícil, por pouco que se reflita. Até esta hora, a morte estava à distância: agora, estava ali mesmo à mão, para se apoderar da sua vítima, e o frio do seu hálito enregelava a fronte de Jesus. Ele não teria verdadeiramente sido homem, se não tivesse impressionado tanto, quanto as circunstâncias da sua imolação se apresentavam ao seu espírito com essa particular clareza que provoca a aproximação da última hora. Sem esforço algum para as definir, Ele mesmo via ou antes, as adivinhava a todas e cada uma delas ao mesmo tempo, assaltado como que por um voo de aves fúnebres cujos gritos e agitações eram para Ele uma fadiga insuportável. A morte aí estava: sem nunca a ter receado, é natural que estremeça com a sua aproximação e que se sinta com uma verdadeira pena ou dificuldade, pela grande confusão com que se lhe apresenta. E como nota São Jerônimo: “Se Ele não tivesse tido essa emoção tão natural ao homem, não teria sido suficientemente experimentado a realidade da sua Encarnação”. Por isso se perturbou sem medida por quatro paixões diferentes: pelo aborrecimento, pelo temor, pela tristeza e pelo definhamento. O aborrecimento lança a alma numa certa pena e mesmo dor que faz com que a vida seja insuportável e que todos os momentos sejam difíceis de suportar; o temor apavora a alma até as suas profundezas, pela imagem de mil tormentos que a ameaçam; a tristeza cobre-a com um espesso véu, que faz com que tudo lhe pareça uma morte; e, enfim, esse definhamento, esse fracasso é uma espécie de acabrunhamento e como que um desalento de todas as forças. Eis o estado do Salvador das almas, no Jardim das Oliveiras! Todos os estremecimentos da nossa carne, todas as agitações do nosso espírito, sentiu-os o próprio Jesus Cristo, com a única diferença de que a sua razão se não deixará perturbar, e a emoção, por violenta que tenha sido, jamais conseguirá dominar-lhe a vontade”.

De momento, eu não sofro de forma alguma, por saber a morte tão próxima; vivo apenas o momento presente. Quando o tempo vier, será provavelmente necessário que eu beba na angústia o cálice inteiro.

Instagram: editorathomasmore

terça-feira, 12 de abril de 2022

Beato Tito Bradsma - um servo de Deus no campo de concentração nazista

Beato Tito Brandsma

Nasceu em Bolsward, Holanda, em 1881. Filho de uma família católica. Devoto fervoroso de Nossa Senhora, decide entrar na Ordem do Carmo. Ordena-se em 1905. Inteligente e sempre dedicado aos estudos, ele revela uma admirável vocação para o jornalismo. Escreve artigos para jornais e revistas. Em Roma, doutora-se em filosofia e Sociologia. Ao voltar para a Holanda, torna-se professor, escritor, pregador e editor de revista. Em 1932, é eleito Reitor da Universidade Católica de seu País. Escreve o livro “Exercícios Bíblicos com Maria para chegar a Jesus”, um pequeno tratado de Mariologia. Esta publicação é fruto de suas orações e meditações que ele jamais descuidava, apesar de sua intensa atividade apostólica: missões, união das igrejas, escola e educação católica, meios de comunicação.
Os problemas começaram quando os nazistas invadem a Holanda, em 1940. Na época, Frei Tito era Presidente da União dos Jornalistas Católicos. Protestou corajosamente contra a invasão. Foi preso dia 19 de janeiro de 1942. Passou pelos presídios de Scheveninguem, Amersfoort, Kleve e Dachau. Foi espancado, submetido à fome e ao frio. Nos interrogatórios deu testemunho de fé, de suas convicções católicas em defesa da justiça. Foi um exemplo de ânimo, de paciência até para aqueles que eram inimigos de sua religião. Seu corpo serviu de cobaia para experiências bioquímicas. Esteve em estado de coma durante dois dias. Antes de morrer, exclamou: “Faça-se a Tua vontade, não a minha”. Faleceu a 27 de julho de 1942, aos 61 anos. Foi beatificado dia 3 de novembro de 1985, pelo Papa João Paulo II.

Oração feita diante da imagem de Cristo na prisão

“Ó Jesus, quando te contemplo,
Eu redescubro, a sós contigo,
Que te amo e que teu coração
Me ama como a um dileto amigo.

Ainda que a descoberta exija
Coragem, faz-me bem a dor:
Por ela me assemelho a ti
Que ela é o caminho redentor.

Na minha dor me rejubilo:
Já não a julgo sofrimento,
Mas sim predestinada escolha
Que me une a ti neste momento.

Deixa-me, pois, nessa quietude,
Malgrado o frio que me alcança.
Presença humana não permitas,
Que a solidão já não me cansa,

Pois de mim sinto-te tão próximo
Como jamais antes senti.
Doce Jesus, fica comigo,
Que tudo é bom junto de ti”.

Esta oração foi escrita por Frei Tito, na passagem do dia 12 para 13 de fevereiro de 1942, na prisão de Scheveningen. Tradução de Lacyr Schettino, terceira carmelita.
Fonte: FradesCarmelistas

quarta-feira, 6 de abril de 2022

Obra de Deus: abelhas fazem mel em ícones

Abelhas do senhor, bendizei o Senhor

🐝🍯As abelhinhas fizeram mel, mas não em cima dos rodos dos ícones.


Um apicultor grego decidiu colocar um ícone de Jesus Cristo em uma de suas colmeias. Depois de um tempo, quando abriu a colmeia, ficou maravilhado.

As abelhas mostraram grande reverência pela imagem sagrada. Elas cobriram todo o ícone com cera, exceto a parte onde o rosto e o corpo de Cristo estão representados.

Depois de ver isso, toda primavera Timinis decidiu colocar os ícones do Salvador, da Mãe de Deus e dos santos, e o resultado é sempre o mesmo - as imagens permanecem intactas.

Certa vez, ele colocou um ícone representando o Gólgota com as três cruzes. As abelhas cobriram toda a superfície do ícone com cera, deixando uma visão clara da cruz na qual Cristo foi crucificado e o ladrão arrependido pintado à direita. E o ladrão da esquerda está coberto com uma espessa camada de cera, diz Isidoros.

E a última vez que o apicultor grego deixou o ícone de Santo Estêvão e as abelhas novamente prestaram seus respeitos.

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sexta-feira, 1 de abril de 2022

Universidade segundo o Cardeal Newman

Se me pedissem uma descrição breve e popular do que seja um Universidade, derivaria minha resposta da antiga designação, Studium Generale, ou “Escola de Conhecimentos Universais”. Esta descrição supõe a reunião de estrangeiros de todas as procedências em um lugar: de todas as procedências, do contrário, como se encontrariam professores e estudantes para todos os departamentos do saber? E num lugar, senão como poderia haver realmente uma escola? Consonantemente, em sua forma simples e rudimentar, é uma escola de toda sorte de saber, contando com professores e mestres de todos os quadrantes. Muitos são os requisitos para completar e satisfazer a ideia incorporada nesta descrição; porém sem mais vemos que uma Universidade em sua essência parece ser um lugar para a comunicação e circulação do pensamento, mediante a comunicação pessoal, dominando uma vasta extensão do país.

Nada há de rebuscado e irrazoável nesta nossa concepção assim apresentada. E se tal é uma Universidade, pois então a Universidade vai bem de encontro a uma necessidade de nossa natureza, e não é mais do que a concretização num determinado setor, do que poderia tornar outras formas em outros para prover à mesma necessidade, pois a educação mútua, no sentido lato da palavra, é uma das grandes incessantes ocupações da sociedade humana, a que o homem se entrega já de per si, já intencionalmente um geração forma a seguinte; e a geração existente está perpetuamente agindo e reagindo sobre si própria na pessoa de cada membro. Neste processo educativo, não será preciso dizer, que os livros, a Littera Scripta, são um dos instrumentos.

[...] O campo e o inestimável serviço da Littera Scripta, é o de ser o arquivo da verdade, uma autoridade a que se apelar, um instrumento de ensino nas mãos de um professor; mas se queremos ser exatos e nos torna plenamente equipados em qualquer ramo do conhecimento que seja variado e difícil, temos que consultar o homem vivo e ouvir a sua viva voz.

[...] Livro algum poderá carrear o espírito peculiar, e as delicadas particularidades do seu tema com a rapidez e a certeza que animam a simpatia de uma mente com a outra, através do olhos, da expressão, da tonalidade, da maneira, nas fórmulas casuais saída de improviso e os giros espontâneos da conversação familiar.

[...] Os princípios gerais de qualquer matéria podem ser estudados em casa num livro; mas o por menor, a cor, o tom, o ar, a vida que a faz viver em nós, temos que captar tudo isso daqueles em que já está vivendo. Temos que fazer como o estudante francês ou alemão, que não contente com sua gramática, vai a Paris ou Dresden; ou como o jovem artista ansioso por visitar os grandes mestres em Florença e em Roma. Enquanto não se houver descoberto um espécie de fotografia intelectual que retrate o andamento do pensar, e a forma, os lineamentos, as feições da verdade e isto tão completa e minuciosamente como o aparelho ótico reproduz o objeto sensível; não há senão ir aos mestres da sabedoria para aprender a sabedoria, senão recorrer à fonte e daí beber. Doses podem ir daqui aos confins da terra levado por livros; mas a plenitude está só num lugar (: a Universidade). Os mesmo livros, obras mestras do gênio humano são escritos, ou pelo menos têm origem em tais ajuntamentos e congregações da inteligência.

[...] Uma universidade é o lugar de concurso, onde estudantes vêm de todos os cantos em busca de todo o gênero de conhecimentos. Impossível terem em toda a parte o melhor de tudo... Por força das coisas, grandeza e unidade vão juntas: a excelência supõe um centro... a Universidade é o lugar para onde colaboram mil escolas; no qual a inteligência facilmente pode ter surto e especular, certa de achar seus iguais nalguma atividade rival, e o seu juiz no tribunal da verdade. É o lugar onde a investigação é incentivada, as descobertas verificadas e aperfeiçoadas, o arrojo feito inofensivo, o erro indigitado, pela colisão de mente com mente, e de conhecimento com conhecimento. O lugar onde o professor se faz eloquente, é missionário e pregador, apresentando o seu saber pela forma mais completa e sedutora, vertendo-o com zelo do entusiasmo, e acendendo o próprio amor no seio dos ouvintes. Lugar em que o catequista solidifica o caminho ao passo que progride, martelando a verdade dia a dia na memória pronta, como que entalando-a e apertando-a na razão em desenvolvimento. Lugar que arrebata por sua celebridade a admiração dos moços, inflama por sua beleza as afeiçoes dos de meia idade e assegura por suas associações a fidelidade dos velhos. Ela é a Sede da sabedoria, luz do mundo, ministra da fé, a Alma Mater da geração que sobe. Isto e muito mais é uma Universidade a pedir melhor talento e mão do que a minha para descrevê-la. Assim é um Universidade em sua essência e em seu fim, e em boa parte assim tem sido de fato até agora. Sê-lo-á de novo?

CARDEAL JOHN HENRY NEWMAN, Idéia da Universidade, Dublin, 1858

Em ano de eleição: Existe o voto católico?

Reprodução/Pinterest


Existe o voto católico? A pergunta pode ser respondida em diversos níveis. Queremos agora nos fixar em dois deles. No primeiro nível, o sociológico, a resposta é relativamente simples: se, por "voto católico" se entende o sufrágio que os católicos efetuam nas urnas durante as eleições, é claro que existe o "voto católico", entendido como o "voto dos católicos", porque muitos católicos votam ali onde vivem, como votam também muitas pessoas que pertencem a outras religiões ou crenças.

Porém, com esta primeira resposta, quem sabe se dilui o ser católico como um dado marginal que não tem especial importância na hora de dar o voto. Isso porque, os votantes, segundo alguns, participam nas eleições simplesmente como cidadãos, não como católicos ou como muçulmanos ou como protestantes, ainda que sociologicamente possamos dizer que votaram católicos, mulçumanos e protestantes.

Por isso, podemos buscar uma segunda resposta num nível mais profundo: o "voto católico" consistiria num modo de valorizar e decidir sobre as diferentes possibilidades eleitorais segundo a visão que nasce a partir da própria fé católica. Esta segunda resposta nos joga numa nova pergunta: Existe no Cristianismo, na Igreja Católica, uma doutrina que tenha conseqüências sociais, políticas, eleitorais?

Se voltamos à primeira resposta, constataremos, com certa perplexidade, que, no passado e no presente, infelizmente alguns católicos deram seu voto a propostas políticas muito diferentes entre si, inclusive algumas gravemente imorais. Por exemplo: na Alemanha, houve católicos que ofereceram seus votos a um partido claramente anticatólico, o Partido Nacional Socialista Operário Alemão. Em outros países, houve e há católicos que votaram em partidos políticos que promovem o ódio de classes, como no Comunismo, ou que defendem o aborto, ou que estão a favor de um capitalismo selvagem que esmaga os direitos dos trabalhadores, ou que se caracterizam por uma mentalidade belicosa que gera guerras injustas e sumamente daninhas, ou que faltam gravemente ao respeito que merece a liberdade religiosa e de consciência, ou que fomentam a destruição da família.

Diante desta situação, nos damos conta de que o voto católico não pode ser visto simplesmente em chave sociológica, senão que a identidade própria da fé cristã deve se fazer visível e ter conseqüências práticas nas eleições políticas.

Um católico que vote realmente como católico, por exemplo, tem que deixar de lado os partidos que defendem o aborto e apoiar os partidos promotores dos direitos dos nascituros. Um católico que vote como católico estará contra qualquer partido racista ou classista, e escolherá partidos que defendem a igual dignidade de todos os seres humanos. Um católico que vote como católico promoverá as opções e os candidatos que favorecem a paz nacional e internacional e excluirá de seu voto qualquer partido político que promova guerras e agressões injustas dentro ou fora de suas fronteiras.

Causa uma profunda dor descobrir que muitos católicos não chegam a compreender o nexo que existe entre sua fé, com todas as riquezas que contém, e seu modo de participar da vida política. Às vezes, isto ocorre porque existe muito pouca formação e o batizado se deixa levar por uma propaganda ou por idéias dominantes. Outras vezes, se dá uma autêntica prostituição da consciência pela qual se chega a ver como bom algo intrinsecamente mau e injusto. Outras vezes, existe uma atitude covarde quando alguém é chamado a defender as próprias convicções e prefere optar pelo que parece conveniente, ou politicamente correto, sem se fixar nos princípios básicos que todo católico deveria defender na vida social.

Frente a esta situação, é urgente uma esmerada preparação dos católicos que lhes permita participar na vida política com idéias claras e com convicções fortes. Não podemos ver com indiferença o fato de que existem países onde a maioria da população é católica e, ao mesmo tempo, governados por partidos políticos que promovem o aborto, que atacam a família, que não garantem os direitos trabalhistas, que aprovam leis que fomentam a imoralidade pública. Existem, para os católicos, uma série de princípios irrenunciáveis a partir dos quais podem julgar os partidos políticos. Aqueles partidos ou candidatos que não respeitam nem defendem esses princípios não podem ser votados pelos católicos. Aqueles partidos ou candidatos que, sim, os promovem e garantem, podem ser escolhidos pelos católicos.

Quais são esses princípios? Podemos resumi-los, a partir de um documento importante da Igreja, a Nota doutrinal sobre algumas questões relativas ao compromisso e conduta dos católicos na vida pública, da Congregação para a Doutrina da Fé, publicada 24 de novembro de 2002. [Tomando o número 4 do documento, os seguintes pontos devem ser considerados exigências éticas fundamentais e irrenunciáveis:]

1. O respeito à vida, também dos embriões humanos, e a clara oposição ao aborto e à eutanásia.

2. A tutela e a promoção da família, fundada no matrimônio monogâmico entre pessoas de sexo oposto e protegida em sua unidade e estabilidade, frente às leis modernas sobre o divórcio.

3. A liberdade dos pais na educação de seus filhos é um direito inalienável, reconhecido nas Declarações Internacionais dos Direitos Humanos.

4. A tutela social dos menores" e a libertação das vitimas das modernas formas de escravidão, pense-se, por exemplo, na droga e na exploração da prostituição.

5. O direito à liberdade religiosa e de consciência.

6. O desenvolvimento de uma economia que esteja a serviço da pessoa e do bem comum, respeitando o direito à propriedade e deveres para com a justiça social, o princípio de solidariedade humana e de subsidiariedade.

7. O tema da paz, que é obra da justiça e da caridade, e que exige a recusa radical e absoluta da violência e o terrorismo, e requer um compromisso constante e vigilante por parte dos que têm a responsabilidade política.

O "voto católico" será, portanto, verdadeiramente católico se sabe respeitar estes setes pontos básicos para a vida social, que valem não somente para os católicos, mas para todos os homens e mulheres que fazem parte de um Estado. São pontos segundo diz a Nota doutrinal antes citada, que "não admitem derrogações, exceções ou compromisso algum". Isto é, são pontos não negociáveis, sobre os quais um verdadeiro católico não pode ceder na hora de por seu voto numa urna. A fé, temos de ter isso presente, ilumina e permite viver mais a fundo a justiça.

Um católico, nesse sentido, se sente chamado a construir um mundo que esteja de acordo com a verdade sobre o homem e sobre a sociedade, que respeite seriamente os direitos humanos. Por isso, seu voto será responsável: excluirá qualquer opção e partido que vá contra os princípios que acabamos de recordar, e escolherá e promoverá aquelas opções e aqueles partidos que defendam programas nos quais sejam respeitados os pontos não negociáveis e ofereçam garantias administrativas, legais e jurídicas para a tutela dos mesmos.

Dr. Pbro. Fernando Pascual, é docente de filosofía e bioética no Ateneu Pontifício Regina Apostolorum, em Roma.