quarta-feira, 31 de agosto de 2022

O HOMEM-MASSA - Dom Fulton Sheen

O HOMEM-MASSA

Por Fulton J. Sheen — Jornal do Dia (RS). Domingo, 27–7–1952.

Um novo tipo de homem prolifera no mundo moderno e, se algum leitor se reconhecer neste artigo, que faça uma pausa, reflita e procure transformar-se. O novo homem é o homem-massa. Ele não dá mais valor à sua personalidade individual mas deseja ser submergido na coletividade ou na multidão.

Este homem-massa pode ser reconhecido pelas seguintes características:

1. Não é original ao julgar ou discernir. Ele nada lê a não ser o jornal diário, a revista ilustrada ou uma novela ocasional. Sobre um assunto, ele pode ter um ponto de vista diferente a externar mas não possui um novo principio de solução.

2. Ele odeia a tranquilidade, a meditação, o silêncio ou qualquer coisa que lhe dê possibilidade de penetrar nos recônditos da alma. Ele tem necessidade de ruídos, ajuntamentos, de ter o rádio ligado, mesmo que não esteja prestando atenção.

3. Precisa de evasão. Necessita fugir de si mesmo. Álcool, coquetéis, histórias policiais, filmes, são tomados em doses excessivas, para matar o tempo. Assim como o gênio ama a concentração, ele procura a dispersão, especialmente no terreno sexual, de maneira a que a excitação do momento o faça esquecer o problema da vida.

4. Ele procura ser influenciado ao invés de influenciar. É muito sensitivo a propaganda, às excitações da publicidade e geralmente, tem no seu jornal diário, um colunista favorito que pensa por ele.

5. Acredita que todo instinto deve ser satisfeito, não importando se se exerce de acordo com a lógica ou a moral. Ele não compreende continência ou autodisciplina.

6. Nas suas crenças sobre o que é certo e o que é errado, ele varia como um cata-vento. Ele mantém posições que nada mais são do que uma sucessão de contradições segue, num mês, certas vias de pensamento e, no mês seguinte, as abandona. Ele não vai a parte alguma mas está certo de que está no bom caminho.

Não possui o menor sento de gratidão para com o passado nem de responsabilidade para com o futuro. Nada interessa a não serem distrações. A vida, então, se torna a louca soma de instantes sucessivos que não fazem sentido entre si.

7. Ele identifica dinheiro e prazer e procura ter muito do primeiro para conseguir bastante do segundo. Mas o dinheiro tem que ser conseguido com o mínimo esforço possível. Seu ego é o centro de tudo e tudo com ele se relacionam, com o dinheiro a servir de intermediário.

8. Para evitar a solidão, ele recorre a estar com pessoas em night-clubs, festas e diversões coletivas. Mas, de cada um delas, ele retorna mais solitário do que antes, chegando finalmente a estar de acordo com Sartre, quando ele diz que o “inferno são os outros”.

9. Sendo um homem-massa completamente estandardizado, ele odeia a superioridade nos outros, seja real ou imaginária. Adora escândalos porque eles parecem provar que os outros não são melhores do que ele. Despreza a religião pela única razão de achar que, ao negá-la, garante para si a possibilidade de continuar a viver como vive, sem ter remorsos na consciência.

10. Ele pode ser designado mais por um número de que por um nome, de tal maneira

está imbuido das ideias coletivas. Até a autoridade que invoca é anônima. Sempre informa que “estão dizendo” isto ou “estão fazendo” aquilo. O anonimato torna-se uma proteção contra a obrigação de assumir responsabilidades. Nas grandes cidades, ele se sente mais livre porque é menos conhecido. Ao mesmo tempo, porém, ele odeia isso porque elimina as suas possibilidades de se destacar, de possuir uma distinção pessoal.

Estas são as dez características do homem-massa, que é a matéria prima de toda a forma de totalitarismo, do fascismo ao comunismo. Psicologicamente, ele é também um homem infeliz, cheio de desespero, ansiedade, medo e atemorizado com a falta de sentido da vida. Mas, ele não perderá a esperança, se conseguir se conhecer. A única razão que ele tem para se perder na multidão, é a impossibilidade de esquecer sua miséria interior. É necessário, portanto, que ele se aparte das massas e comece a sondar o próprio eu. A fuga é uma covardia, um escapismo. Especialmente a fuga pelo anonimato.

É preciso coragem para olhar no espelho da própria alma e ver as rugas causadas pelo mau procedimento. Não é um truísmo dizer que os homens devem ser homens não átomos numa massa.

Desde que o homem reconheça a extensão dos danos que causou a si próprio, ele procurará o Divino Médico para curá-lo. Foi para os homens-massa exaustos que Ele enviou o seu apelo:

“Vinde para mim todos os que trabalham e estão sobrecarregados, pois encontrarão alívio para suas almas”.

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