quarta-feira, 13 de abril de 2022

Jacques Fesch - Diário - TUDO VER À LUZ DA PAIXÃO DE JESUS

Quem foi Jacques Fesch? Parece um enredo fictício de livro ou filme de drama; a história, porém, é real. Você não será o mesmo-eu garanto - após ler a vida e o diário de Jacques Fesch. Este jovem, rico, bonito, com futuro promissor, ver-se-ia preso nas teias das seduções mundanas (dinheiro, sexo, bebidas, prazeres) e insatisfeito com tudo e consigo, comete uma loucura tão propensa aos jovens... Fesch nasceu em 1930, em Saint Germain-en-Laye, uma cidade nos arredores de Paris. Casou-se com Pierrette Polack e teve uma filha, a linda Verônica. Porém, teve outro filho fora do casamento, chamado Gerard Fesch. Frustrado com sua vida, deseja se lançar em uma aventura: viajar pelo mundo em um veleiro. Para isso, pede dinheiro aos seus pais, que lhe recusam devido à sua irresponsabilidade. Com alguns amigos, planeja um assalto; seus amigos, porém, o abandonam no meio do ato e ele se vê desnorteado; ataca o dono da loja e, na fuga, acerta um tiro em cheio no coração de um policial. A pressão política e social foi enorme. Todos queriam sua condenação. Aos 27 anos, Jacques se vê condenado à morte por guilhotina. Na prisão é atendido por um advogado católico. Jacques debocha de sua Fé. Sua esposa que havia sido abandonada o visita e vê que, ao longo dos dias, sua fisionomia e estado de espirito vão mudando. Fesch de súbito converte-se! Ele teve uma graça extraordinária. Seu diário relata exatamente isso. Acreditamos que a vida de Jacques Fesch possa servir para mudar corações que passam por momentos de fraquezas e tristezas. Este é o nosso desejo!

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A Editora Santo Thomas More nos autorizou a publicar esse trecho.


TUDO VER À LUZ DA PAIXÃO DE JESUS

Sexta-feira, 13 de setembro

 

Meditei muito na Paixão esta manhã e dela tirei muitas forças. Aliás, importa notar que me aproximo um pouco mais de Jesus Crucificado, pois também eu, embora inteiramente indigno, vou ter a graça de viver o meu pequeno Gólgota. Quando vejo que eles escarraram em Cristo e lhe deram bofetadas, eu me vejo nas mãos dos agentes a receber pancadas e escarros, e compreendo melhor os sofrimentos de Jesus. A justiça, e as estiradas oratórias, as indignações fictícias dos mercenários a soldo do diabo que se chama dinheiro, publicidade e oportunismo, fazem-me pensar em Caifás a rasgar as suas vestes para manifestar sua indignação! Bem entendido que eu sou, culpado e em nada me pretendo pôr em paralelo com Jesus. Só que, quem compreenderá melhor a crucifixão e todas as dores que ela implica, do que o bom ladrão que estava pregado no madeiro ao lado do meu Salvador? E para quem Jesus Cristo veio, na realidade? É preciso não esquecer que o primeiro eleito foi um bandido, executado como tal, e que os bem-comportados ou os que se julgam como tais, se viram tratados por sepulcros caiados de branco por fora e podres por dentro e por outras coisas do gênero! Que dizer, então? Que é preciso ser um criminoso para ser um eleito? De modo algum! Só que este mesmo pária que pecou, muitas vezes sem ter toda a responsabilidade dos seus atos, encontrará no seu arrependimento e no sofrimento, e sobretudo na consciência da sua miséria, um caminho mais direto para chegar ao Coração de Jesus. O bem-comportado, esse se contentará com o pouco e, julgando-se justo aos olhos da sociedade, será persuadido de que será julgado da mesma forma por seu Pai Celeste.

“Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós somos fracos e vós fortes; vós nobres, e nós desprezíveis. Até esta hora, sofremos fome, sede e nudez; somos esbofeteados, andamos vagabundos, e cansamo-nos a trabalhar com as nossas mãos. Amaldiçoados, bendizemos; perseguidos, suportamos; difamados, consolamos. Tornamo-nos como o lixo do mundo, a escória de todos até agora” (1 Coríntios 4, 10-13).

No fundo de mim mesmo, sinto com intensidade toda a injustiça e estupidez dos juízos humanos. Muitas vezes gostaria de dar livre curso aos meus rancores, demonstrar a vaidade e a presunção dos que se atrevem a julgar; e imediatamente, vejo o próprio Jesus, o amor feito homem a sofrer, sem uma única palavra, os piores ultrajes, as piores injustiças e engulo a minha raiva, entregando toda a justiça às mãos do meu Deus, e alegrando-me por eu mesmo ter também qualquer coisinha a oferecer, em reparação dos pecados. É simplesmente necessário que eu me prepare para bem morrer, que não resista em nada à Vontade de Deus e que abandone toda a preocupação, todo o temor, nas mãos de Jesus, que me conduzirá “Sem que meu pé choque com a pedra” do redil celeste, em que as pastagens são tão abundantes. Que força não tiraremos então de Jesus crucificado?

“A própria inocência foi condenada à morte, como responsável de crimes odiosos; o salvador de Israel e do mundo foi proclamado, a face de todos, um perigo e uma ruína por aqueles que mais O deviam amar! Ó lição formidável para o orgulho da razão humana! Ó consolação inefável para as almas que se sentem esmagadas sob o peso da injustiça, da calúnia e da perseguição! Haverá porventura um momento mais próprio para repetir, com o Príncipe dos Apóstolos de joelhos, diante do Mestre abandonado: “A quem iremos nós, para encontrar a luz e a força, uma vez que só vós tendes palavras de vida eterna?” (São João 6, 68).

Cada ato, cada momento da minha execução e de seus preparativos, devo relacioná-los com Jesus. Que bela imitação a fazer! A longa expectativa, sozinho na noite, será a minha agonia no Jardim das Oliveiras; os preparativos, o caminho para o Calvário e, enfim, o instrumento de morte... Jesus conheceu a angústia, eu também a conheci; mas estou certo de que, aconteça o que acontecer, o próprio Jesus me dará a força para vencer toda essa angústia. E como é que Jesus sofreu?

“Agora, diz Ele, a minha alma está perturbada”. Por consequência, será que um véu lhe caiu dos olhos, mostrando-lhe toda a profundeza do abismo em que iria cair? A resposta não é difícil, por pouco que se reflita. Até esta hora, a morte estava à distância: agora, estava ali mesmo à mão, para se apoderar da sua vítima, e o frio do seu hálito enregelava a fronte de Jesus. Ele não teria verdadeiramente sido homem, se não tivesse impressionado tanto, quanto as circunstâncias da sua imolação se apresentavam ao seu espírito com essa particular clareza que provoca a aproximação da última hora. Sem esforço algum para as definir, Ele mesmo via ou antes, as adivinhava a todas e cada uma delas ao mesmo tempo, assaltado como que por um voo de aves fúnebres cujos gritos e agitações eram para Ele uma fadiga insuportável. A morte aí estava: sem nunca a ter receado, é natural que estremeça com a sua aproximação e que se sinta com uma verdadeira pena ou dificuldade, pela grande confusão com que se lhe apresenta. E como nota São Jerônimo: “Se Ele não tivesse tido essa emoção tão natural ao homem, não teria sido suficientemente experimentado a realidade da sua Encarnação”. Por isso se perturbou sem medida por quatro paixões diferentes: pelo aborrecimento, pelo temor, pela tristeza e pelo definhamento. O aborrecimento lança a alma numa certa pena e mesmo dor que faz com que a vida seja insuportável e que todos os momentos sejam difíceis de suportar; o temor apavora a alma até as suas profundezas, pela imagem de mil tormentos que a ameaçam; a tristeza cobre-a com um espesso véu, que faz com que tudo lhe pareça uma morte; e, enfim, esse definhamento, esse fracasso é uma espécie de acabrunhamento e como que um desalento de todas as forças. Eis o estado do Salvador das almas, no Jardim das Oliveiras! Todos os estremecimentos da nossa carne, todas as agitações do nosso espírito, sentiu-os o próprio Jesus Cristo, com a única diferença de que a sua razão se não deixará perturbar, e a emoção, por violenta que tenha sido, jamais conseguirá dominar-lhe a vontade”.

De momento, eu não sofro de forma alguma, por saber a morte tão próxima; vivo apenas o momento presente. Quando o tempo vier, será provavelmente necessário que eu beba na angústia o cálice inteiro.

Instagram: editorathomasmore

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