Fulton J. Sheen
Nunca é
demais repetir que o comunismo é menos um sistema econômico e político do que
uma filosofia da vida. Karl Marx, o fundador do comunismo, só pensou em sua
teoria econômica na última fase de sua vida. As primeiras décadas ele as passou
estudando filosofia (ingleses) e a sociologia (franceses). Só depois foi que
ele se voltou para a economia (alemães).O comunismo
baseia-se numa falsa expectativa filosófica: a de que o homem tem poderes
limitados e pode, sem ajuda divina, atingir a perfeição, e mesmo chegar a ser
um deus. É por isso que a sua filosofia (que é uma forma falsa de humanismo) é
conhecida como “humanismo ateísta” pelos professores.
Os comunistas
acreditam que a injustiça social, a miséria e o egoísmo que nos cercam decorrem
de influências de instituições como a propriedade privada ou a divisão da sociedade
em classes. Os comunistas nunca culpam o arbítrio humano pelas catástrofes da
sociedade. Eles fingem acreditar que o golfista nunca perde um golpe por
fraqueza, cansaço ou falta de destreza; a culpa é sempre do taco, que foi feito
defeituoso por culpa dos banqueiros de Wall Street. Só os capitalistas é que
são perversos no esquema comunista; todos os demais são anjos em pecado.
Mas essa
visão otimista da sociedade não capitalista não resiste à realidade dos fatos. Se
o mal desaparecesse com o desaparecimento dos “capitalistas” não teria ocorrido
o fenômeno do Estado Soviético, com seus campos de concentração e a matança de
prisioneiros inocentes, julgamentos forjados e perseguições injustas.
As coisas
não são más em si. Isso se aplica ao ouro, aos alimentos, ao poder, aos títulos
público e ás funções de um governo eletivo. As coisas só ficam más quando os
homens que as possuem abusam de seu poder. Por conseguinte a “equalização da
propriedade” não pode trazer a compreensão entre os homens. O comunismo começou
sugerindo que cada um chamasse o seu semelhante pelo nome doce de “camarada”;
mas á medida que a filosofia maléfica do marxismo foi se desenvolvendo Stalin
foi feito marechal e os “velhos bolchevistas” passaram a usar medalhas, cada
uma delas para premiar a quebra de um mandamento de Deus.
A teoria
comunista trás no seu âmago uma contradição singular: os marxistas nos dizem
que cada homem foi “determinado” pelo seu meio, e que deve inevitavelmente combater
ao lado de sua “classe”. Esse ponto de vista devia logicamente limpar toda
responsabilidade de ordem moral; no entanto ninguém é mais severo do que os
comunistas em castigar pecados como a “traição”.
Todas as
depurações e toda as perseguições conduzidas pelos soviéticos admitem que o
acusado precisa ser responsabilizado pelo que fez. Se não fosse assim – para que
culpa-lo, para que castiga-lo, para que mata-lo ou prendê-lo? Os comunistas não
podem escapar à consciência que procuram extirpar.
O sigilo e a
decepção sistemática acompanham todo regime comunista. As causas levam a
consequências parecidas. A propaganda comunista diz que a perfeição do homem
virá com a ordenação mais justa das coisas. Mas os povos do mundo inteiro já
ultrapassaram a fase do anseio por “coisas”, e aprenderam que o materialismo
não é tudo. Os Estados Unidos gozam hoje de alto padrão de vida – o mais alto
do mundo, mas em suas fronteiras vivem a mais alta percentagem de psicopatas e
neuróticos de todos os tempos. A pobreza não é a única causa de desespero.
Numa conversa
ouvida há poucos dias entre duas mulheres, captei este comentário: “Você pensa
que a sua vida é difícil! E a minha? Imagine que há quatro anos eu tenho trabalhado para me
sustentar”.
Para essa mulher o trabalho é um forma de castigo e uma injustiça – é um martírio também! No entanto o trabalho é contentamento para aqueles que encaram o mundo que os cerca como uma coisa para ser amada e servida, e pão para ser aproveitada.
Para essa mulher o trabalho é um forma de castigo e uma injustiça – é um martírio também! No entanto o trabalho é contentamento para aqueles que encaram o mundo que os cerca como uma coisa para ser amada e servida, e pão para ser aproveitada.
Acentuar o
lado econômico, como fazem os marxistas, é fazer cada homem um egoísta e um
materialista – e esse caminho ainda não levou o mundo á felicidade. Ser cristão
é acentuar o lado espiritual e trabalhar para servi-lo e ampliar seus limites. Nesse
caminho está a alegria e o contentamento dos santos.
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Jornal do Dia (RS), sábado, 08-12-1951.
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Jornal do Dia (RS), sábado, 08-12-1951.